domingo, 28 de novembro de 2010

Unemployed

Depois de pouco mais de seis meses de trabalho num período probatório, na semana passada acabei perdendo meu emprego. Sem traumas, numa conversa muito madura com meu chefe ficou claro que eu não sou o recurso que ele precisa nesse momento. Assim sendo, persiste a amizade mas cada um tem de procurar outros caminhos...

Apesar dos muitos elogios e uma sincera relação de mútuo respeito e admiração, o fato é que a empresa precisa obter novos e significativos negócios no curto prazo - algo que não fui capaz de fazer acontecer. Em especial pelo tipo do negócio e também pela situação econômica atual isso já é um enorme desafio para qualquer profissional, por mais experiente que seja; imagine então para quem não tem rede de relacionamentos local desenvolvida, nem familiaridade com o mercado e o contexto local (enfim, um recém-chegado imigrante)... a boa notícia é que, se por um bom tempo inspirei meu empregador a apostar em mim apesar de tudo, (sem falsa modéstia) algumas qualidades eu possuo.

Essa é a primeira vez que sou demitido (espero seja também a última!), e é inegável que a sensação é péssima - é um tapa na cara da autoestima. É um tropeço doído esse fracasso, e claro que mexe muito com a gente.

Mas como lamentar não leva a nada, o que resta é aprender com mais essa experiência, entender onde acertei e onde errei, levantar a cabeça e procurar uma nova colocação. Considerando que agora tenho a tal Canadian experience e boas referências por aqui, espero que minha recolocação seja bem menos difícil do que foi conseguir esse emprego.

Resolvi publicar isso aqui no blog porque é parte da história de imigração que estamos escrevendo. É uma jornada que tem seus percalços, é bom que saibam os que pensam em também imigrar.

Além disso, os próximos posts vão conter informações sobre a legislação trabalhista e o suporte ao desempregado conforme o que eu for vivendo, para que possam servir para comparação com a prática no Brasil.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sobre Gravidez

Tem muitos temas que merecem posts ainda não escritos. Um deles é sobre gravidez aqui no Canadá, com muito a ser dito sobre o sistema de saúde canadense.

Estava pensando em escrever sobre o tema, mas desisti quando li esse post da Mariana. Pra variar, mais um excelente post do Lá no Canadá - seria um desperdício repetir tudo o que ela disse.

O que temos pra acrescentar é alegria de estarmos nos aproximando do nascimento do nosso menino, que cresce lindão e saudável na barriga da mamãe!

sábado, 13 de novembro de 2010

Remembrance Day

Ontem, 11 de novembro, foi comemorado o Remembrance Day aqui no Canadá. É um dia de reflexão e homenagem aos militares que perderam vidas em serviço. Para o funcionalismo público, é um feriado.

Como chegamos aqui em Outubro do ano passado, já tínhamos vivido um Remembrance Day. Mas naquela oportunidade tínhamos recém chegado e estávamos envolvidos em mobiliar e equipar o apartamento que tínhamos alugado, um tanto ainda distantes da cultura local. A lembrança marcante foi a quantidade de gente usando o alusivo bottom vermelho naquela semana - demoramos um bocado até entender o que era aquilo.

Nesse ano, mais envolvido na comunidade e já na rotina de trabalho, o Remembrance Day me marcou de forma diferente. Durante o expediente de trabalho, às 11 horas do dia 11/11, o Presidente da empresa pediu a atenção de todos pelo intercomunicador e fez um discurso efusivo e muito emocionante, seguido de dois minutos de silêncio.

Foi muito marcante perceber o valor que os canadenses conferem aos seus militares. Não é uma exaltação de poder bélico ou institucional, mas uma verdadeira gratidão aos homens e mulheres que têm suas vidas em risco em serviço aos interesses da nação.

Nós brasileiros, provavelmente pelas cicatrizes da ditadura, via de regra não temos a mesma admiração pelos nossos militares. É difícil descrever quão diferente é o sentimento das pessoas.

O Canadá se orgulha da tradição de "pacificador" em sua história militar (nunca esteve no centro de nenhum conflito, mas sempre participou ativamente nas Grandes Guerras e conflitos da história contemporânea). Curiosamente, neste momento em que milhões de canadenses rendem homenagens aos seus "fallen soldiers", o governo anunciou planos para estender a permanência das tropas canadenses no Afeganistão para além do fim da missão de combate, previsto para julho de 2011. A serviço da OTAN, o exército canadense deverá permanecer no país para treinar o exército afegão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O outro lado da moeda: o que esse país tem de ruim?

Na última semana recebi um e-mail da Tayza, brasileira que já morou fora do país e agora pensa em vir para o Canadá. Escolada com a experiência anterior, ela já sabe que nem tudo são flores no primeiro mundo, e sugeriu que eu escrevesse sobre os defeitos do Canadá.

Acho mesmo que faltava abordar esse tema aqui. Um dos grandes erros que um candidato a imigrante pode (e tende a) cometer é construir uma imagem de que aqui tudo é bom e melhor do que no Brasil, criar uma fantasia que vira paixão e suprime a razão.

A intenção aqui, portanto, não é desencorajar ninguém a perseguir seus sonhos, se viver no Canadá é parte disso. Pelo contrário, esse post é apenas a minha opinião sobre as dificuldades e os problemas que se deve saber que existem.

Eu não vou falar de problemas de nenhuma cidade em específico (como as deficiências to TTC em Toronto), mas de coisas comuns a todo o país.

Os pontos abaixo não estão em nenhuma ordem de relevância, apenas estão na ordem em que me vem à cabeça:

1. Dificuldades para conseguir emprego

Nessa terra em que o que não falta é imigrante, um grande desafio é conseguir um emprego à altura das suas qualificações. Sobram razões para essa dificuldade: falta domínio da língua, falta familiaridade com a cultura, falta network para além da comunidade brasileira, falta experiência no mercado canadense e faltam referências a seu respeito. Muito se fala sobre motoristas de taxi com PhD como exemplo de profissionais qualificados que nunca conseguiram acessar o mercado aqui. Acho que essa é realmente uma dificuldade muito grande, e não está relacionada com nenhuma forma de pre-conceito; basta se colocar no lugar do empregador.

A solução? Muito preparo (mas muito mesmo), reservas financeiras pra queimar enquanto não conseguir se colocar, e uma boa dose de sorte.

Depois de conseguir emprego, o desafio é desempenhar na plenitude do seu potencial.


2. Impostos

A carga tributária aqui é escorchante. Pra quem vem do Brasil e já está acostumado com a extorsão oficial sem receber nada em troca, ri de fratura exposta porque tem acesso a saúde, educação, segurança, etc. Mas assim que passa o encanto inicial e você se acostuma com os serviços públicos (que também têm seus defeitos, diga-se de passagem), você vai morrer de raiva cada vez que receber o holerite ou fizer compras.


3. Atendimento na saúde pública

Não acho que se pode reclamar do atendimento de saúde aqui, considerando que é verdadeiramente para todos - ninguém morre em fila de hospital. Mas é fato que, para o imigrante que vem como skilled worker, via de regra com boa situação financeira no Brasil e usuário de planos de saúde privados, o atendimento está longe do que estávamos acostumados. É comum haver longa espera nos hospitais para quem não está em estado grave, os médicos não são muito bons em te dar feedback após exames, e o acesso a especialistas precisa antes do encaminhamento por um generalista (ou family doctor).

Cabe lembrar também que alguns serviços de saúde não são cobertos pelo sistema público, como dentistas e fisioterapeutas, por exemplo. Sai do bolso e é caro, para aqueles que não tem plano complementar privado (geralmente oferecido pelos bons empregadores).


4. Frio

Aqui é frio. Ponto. É suportável, há toda uma estrutura para lidar com isso (isolamento térmico, aquecimento em todo lugar, caminhos subterrâneos), mas é frio. E aí, meu caro, ou você aprende a gostar do frio e das atividades próprias de inverno, ou vai odiar isso aqui e se confinar em casa.


5. Demasiada concentração de imigrantes

Aquilo que é parte da riqueza cultural do país - sua multiculturalidade - pode também ser algo muito negativo, por vezes. É que em muitas regiões a concentração de uma determinada etnia modifica totalmente o ambiente, com a prevalência dos costumes de origem daquela comunidade. Não é difícil se ver em meio a tantos orientais que parece que você se mudou pra China, e não pro Canadá. Ou tanto turbante que o ocidental é que é o peixe fora d'água. Não que eu nutra preconceitos por qualquer dessas etnias, mas o fato é a carga cultural, os seus hábitos (como higiene) e valores (como o valor da mulher, por exemplo), são diferentes dos nossos e do que você poderia esperar encontrar num país anglo-francófono.

Ademais, num país em que as pessoas respeitam as regras simplesmente porque assim aprenderam, infelizmente quem vem de culturas em que o espertalhão é quem burla tudo e desrespeita todos acaba causando um estrago e tanto.


Vou parando por aqui, não porque este post esteja ficando longo, mas porque nada mais me vem a mente como algo tão negativo que mereça ser mencionado. Bom sinal, não é?